O celular dela toca e ela corre para atendê-lo com um sorriso bobo no rosto, já sabendo quem está do outro lado da linha, olha no visor só para checar se está certa e sente o coração acelerar ao ver que é ele.
- Alô?! - sua voz saiu um pouco manhosa, como quem tinha acabado de acordar mas, na verdade, era a ansiedade de falar com ele, estava a sufocando.
- Oi, tudo bem? Deixa eu perguntar - ela ri baixo, essa coisa dele de emendar um “Deixa eu perguntar” ou “Deixa eu falar” sem deixá-la responder se está bem ou não acontece sempre, ela falou apenas um “Hum” - Você estava dormindo?
- Não, porq..
- Estava sim, sua voz está igual de quem estava dormindo - ela revirou os olhos rindo.
- Eu não estava dormindo!
- Então a sua noite de ontem foi boa com seu namorado? - eles riram.
- Que namorado? Não tenho nenhum.
- Tem sim que eu sei.
- Ai, cala a boca seu idiota! - ela deu um tapa em sua perna e desejou que ele estivesse ao lado dela para levar um tapa e depois, quem sabe, um abraço.
Ambos ficaram em silêncio, ela se agoniou ao pensar que a conversa estava para acabar.
- Deixa eu falar - ele falou e ela sorriu - Nós vamos hoje?
- Vamos, claro.
- E o pessoal? - ela adora isso, adora como ele sempre pergunta se ele e ela vão e depois pergunta se os amigos vão, de certa forma, ela adora o quanto ele depende dela.
- Acho que sim, não tenho certeza - ela sentiu uma pontinha de medo dele desistir de ir porque os amigos não confirmaram que vão mesmo sabendo que ele sempre vai, nem que sejam apenas os dois.
- Tá, mesmo se ninguém for a gente vai, né? Você ainda vai se for só você e eu? - ela revirou os olhos sem acreditar no que acabou de ouvir.
- Só eu e você já fomos em tantos lugares sozinhos que eu me cansei de você - ela falou brincando.
- Quê?! - ele perguntou um pouco assustado, que a fez rir.
- Claro que vamos, dã!
- Ah bom. Daqui uma hora então?
- Isso!
- Então vou me arrumar. Quando você estiver saindo da sua casa, me liga!
- Pode deixar.
- Então tá.
- Tá - ela respirou fundo, não queria desligar.
- Até daqui a pouco, beijo.
- Beijo.
Ela voltou à sala com sua mãe, estavam terminando de assistir à um seriado na televisão quando o celular tocou.
- Quem era - a mãe perguntou.
- Meu melhor amigo - a menina sorriu ao responder.
“Tenho uma parte que acredita em finais felizes, em beijo antes dos créditos, enquanto outra acha que só se ama errado. Tenho uma metade que mente, trai, engana. Outra que só conhece a verdade. Uma parte que precisa de calor, carinho, pés com pés. Outra que sobrevive sozinha, metade auto-suficiente.”